Última alteração: 2019-07-03
Resumo
A Câmara dos Deputados do Brasil comporta o sistema partidário mais fragmentado entre as assembleias legislativas (legislatures) dos 132 países analisados pelo índice N ou EffNs de Gallagher (2019) há pelo menos duas legislaturas. Extensa e longeva literatura associa o multipartidarismo e a alta fragmentação ao sistema eleitoral proporcional (Duverger, 1980 [1951]) - que incentiva o ingresso de muitos partidos - e à ausência de uma efetiva cláusula de desempenho (Nicolau, 2017). O mesmo não ocorre com relação aos efeitos da legislação partidária e interna sobre as prerrogativas e configuração das bancadas do Congresso Nacional no período entre eleições. O presente trabalho busca identificar as causas institucionais da crescente fragmentação do sistema partidário brasileiro desde a aprovação da atual Lei dos Partidos (Lei nº 9.096, em 1995). Para tanto, analisa as alterações na legislação partidária, na regulação interna e na legislação eleitoral - a última apenas no que concerne aos efeitos sobre a configuração partidária dentro de cada uma das Casas desde a 50ª Legislatura (1995 – 1999). A análise das bancadas eleitas e das bancadas das primeiras sessões deliberativas de cada sessão legislativa indicam que o desrespeito e, posteriormente, o fim da cláusula de desempenho, o aumento dos recursos da distribuição igualitária do fundo e a punição da infidelidade partidária acabaram por quebrar o equilíbrio traçado pelo constituinte e pela legislação original, gerando fragmentação recorde na Câmara dos Deputados e no Senado Federal na última eleição.